Fede como um cachorro atropelado no asfalto quente, com as vísceras expostas ao sol quente do meio-dia.
O Brasil fede.
Fede como a carniça nojenta de um povo historicamente expropriado e, hoje mais do que nunca, jogado no lixo da economia, da cultura e da história.
Durante uma semana inteira tentei pensar a sério este país.
Não consegui.
A perplexidade chegou a tal ponto que só consigo imaginar o Brasil dividido em duas metades: a dos criminosos (10%) e a dos babacas (90%).
Os criminosos lá de cima deitando e rolando sobre os babacas aqui embaixo, ingênuos demais para ganhar o jogo indecente do poder. O discurso dos criminosos é grandiloquente, vazio, mentiroso, oportunista, egoísta e mesquinho. Interessa a eles justificar o injustificável.
O discurso dos babacas é inócuo, argumentativo, inspirado na boa-fé e na ética, como se ética fizesse sentido para a quadrilha dos criminosos que assaltou o país.
Afinal, desisti das palavras.
“Palavras e mais palavras, só palavras” disse Hamlet, na peça homônima, dirigindo-se a Polônio, na cena II do segundo ato. Palavras servem apenas para aliviar consciências culpadas de não irem às últimas consequências.
“Da próxima vez, o fogo”, ameaçou certa vez o afro-norte-americano James Baldwin, quando a revolução negra ameaçava botar fogo literalmente na grande e poderosa república do Norte.
Aqui não haverá fogo, não haverá nada. Apenas palavras. Como povo, somos covardes demais para enfrentar os criminosos.
Como indivíduos, tudo o que conseguimos é gerar discursos autoexplicativos e politicamente ineficazes para justificar o injustificável.
Somos um povo de bananas apodrecidas antes de amadurecer.
Então, como alternativa, como também sou um covarde, revirei nossa música popular e consegui recuperar duas canções que nos explicam e explica nossa alma de babacas sentimentais e incapazes de pegar onça a laço e touro a unha. Coisa que os bons peões faziam antigamente com um pé nas costas.
Se essas canções não nos explicam, permitem ir ao fundo do poço, se alguém ler com atenção este desabafo e ouvir metaforicamente estas canções. Somos, no máximo crianças birrentas, e tudo o que fazemos é espernear.
Aí está nossa alma. Aí está o que somos.
O ébrio:
Coração de luto:
https://youtu.be/dC5R0cLrojQ
Largado por Zoto | largados comentaram ( 4 ) | Visualizações: 1808
novembro 6th, 2017 at 6:25
Voltamos à época do Brasil Imperial.
De um lado a Família Real e do outro, a plebe.
Salvem-se quem puder…
novembro 6th, 2017 at 8:05
Errado, porque no tempo de D. Pedro II ele se preocupava com os mais pobres. Tanto que foi ele que criou as primeiras escolas públicas do Brasil. Quando assumiu o trono (na verdade quem assumiu na época foi o regente) apenas 4% da população brasileira era alfabetizada e quando foi deposto 56% da população brasileira era alfabetizada.
Não voltamos no tempo e sim fomos conduzidos a este estado de coisas desde que os militares (sempre eles) depuseram D. Pedro II e tomaram o poder. Com isso o poder econômico assumiu as rédeas da nação e deu no que deu.
E para os fãs do molusco, foi justamente no governo dele que o poder econômico (Bancos e empresas) mais se deu bem.
A verdade é que o Brasil nunca teve um governo que governasse para o país e sua população. Quase todos os governantes sempre governaram para as elites do país.
Vou parar por aqui senão vai virar um livro.
novembro 6th, 2017 at 8:32
Zé, concordo. Por exemplo, o Inss é o maior programa de transferência de renda dos mais pobre aos mais ricos….
novembro 6th, 2017 at 9:07
Inteligentíssimas colocações, aqueles que ainda insistem em defender o maior bandido que esse país já elegeu, que se recorde de um vídeo, onde o canalha, manifesta comprar votos explicitamente, alegando distribuição de renda, os famigerados dez reais ao povo para gerar consumo. Como alguém pode defender tamanha canalhice? É de se indignar!!! mas em um país onde se legisla em causa própria, nomeia-se quem terá o poder de lhe julgar, caso cometa algum ilícito e a prostituição institucional, com a farra da liberação de recursos, salvando a própria pele, nos faz inertes e anestesiados, boquiabertos com a coragem de parlamentares que nos esfregam na face, suas podres convicções de impunidade. É como se nos dissessem, sou corrupto, tenho foro privilegiado, mas não se preocupe, vocês se esquecerão de tudo isso nas próximas eleições, pois a seguir um colega irá me superar com um episódio ainda mais escandaloso. São doses diárias de assaltos aos cofres públicos, que já não nos permitimos mais a indignação. Parafraseando Raul, estamos todos sentados no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar.